ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO NA GRAVIDEZ
A consulta pré-concepcional é a melhor altura para informar e aconselhar sobre os hábitos que poderão influenciar a gravidez (alimentares, tabágicos, alcoólicos, consumo de drogas, medicamentos e outros) e para fazer um aconselhamento geral sobre dieta, exercício físico e actividade profissional. O objectivo primordial é assegurar que a gravidez culmine no nascimento de um bebé saudável sem danos para a saúde materna.
Anteriormente, o American College of Obstetricians and Gynecologists, entre outros, recomendavam que a progressão ponderal durante a gravidez fosse de 10 a 12 quilos. Deste aumento, 9 quilos representariam o produto da concepção e os ajustamentos fisiológicos da gravidez (feto, placenta, líquido amniótico, útero, aumentos da volémia e do volume mamário e a retenção de água no espaço intersticial); e os outros 1 a 3 quilos diriam respeito ao aumento do tecido adiposo materno.
Actualmente, acredita-se que o ganho ponderal gestacional adequado deverá basear-se em factores maternos como a idade, a raça, os hábitos (tabagismo, por exemplo), o número de fetos e, sobretudo, a massa corporal (peso/altura) anterior à gravidez. Desta forma, o peso pré-concepção pode ser um indicador de risco, identificando as mulheres com maior probabilidade de complicações ao longo da gravidez; as mulheres obesas têm maior probabilidade de complicações (hipertensão, pré-eclâmpsia, diabetes gestacional, atraso de crescimento intra-uterino) tanto durante a gravidez, como no parto e puerpério.
A evidência científica mostra que a saúde do filho, é em grande parte, programada durante a sua vida intrauterina, assim, recomenda-se a adopção de um estilo de vida saudável, que deve iniciar-se de preferência antes da gravidez ou corrigir-se o mais precocemente possível, de modo a garantir uma alimentação equilibrada e adequada às necessidades da gravidez.
Um rápido aumento de peso, mais de 1,5 kg numa semana, associado a edemas, deve sempre requerer avaliação clínica (pressão arterial, evolução dos edemas e avaliação analítica). Por seu turno, um inadequado ganho de peso na gravidez pode estar associado ao aumento do risco de atraso de crescimento intra-uterino. Por esta razão, é importante que todas as grávidas sejam acompanhadas por prestadores de cuidados especializados, nomeadamente médicos e enfermeiros obstetras. Quando se justifique pode ser necessária a colaboração de um dietista ou de um nutricionista.
Desta forma, um dos mais importantes indicadores do ganho de peso gestacional e do seu impacto na saúde da mãe e do filho é o peso pré-concepcional ou no início da gravidez, ou seja o IMC (Índice de Massa Corporal) prévio à gravidez assume particular importância:
PROGRESSÃO PONDERAL
IMC da mulher antes de engravidar | Ganho de peso total | Ganho de peso médio por semana para o 2º e 3º trimestres* |
Baixo peso IMC <18,5 | 12,5 Kg - 18 kg | Cerca de 0,5 kg por semana |
Peso normal 18,5 ≤ IMC ≥ 24,9 | 11,5 Kg - 16 kg
| Cerca de 0,4 kg por semana |
Excesso de peso IMC entre 25 e 29,9 | 7 Kg - 11,5 kg | Cerca de 0,3 kg por semana |
Obesidade IMC ≥ 30 | 5 Kg - 9 kg | Cerca de 0,2 kg por semana |
*Para o 1º trimestre, espera-se um aumento de peso total de 0,5 a 2kg
IMC – Índice de massa corporal (peso em kg dividido pela altura em metros ao quadrado, ou kg/m2).
Fonte: DGS, 2015
Exemplo: uma mulher com 60 Kg e com 1,60m tem um IMC = 23,4
(60kg/1,60m x1,60m), pelo que deverá aumentar entre 11,5 a 16 kg na gravidez.
Assim, ter uma alimentação saudável durante a gravidez é essencial para o crescimento saudável do bebé e para o bem-estar materno. As recomendações alimentares na gestação não são muito diferentes das recomendações alimentares para toda a população, e estão de acordo com as orientações da Roda dos Alimentos.
Recomendações Alimentares:
- Dieta equilibrada, variada e polifracionada (3/3h) - não devendo pensar que tem que “comer por dois”;
- Recomenda-se 5 a 6 refeições diárias (devem existir duas a três refeições principais e dois a três lanches de acordo com as suas rotinas);
- Ingestão de 2 L de água/dia;
- Outras formas de hidratação (sumos naturais – atenção ao nº peças de fruta, chás sem cafeína - camomila, cidreira, limão, tília…);
- Ingerir cerca de 2400 calorias diárias, através de uma alimentação equilibrada, distribuídas por 12% de proteínas (carne de preferência branca, peixe, ovos, leite e derivados, feijão e tofu); 45-65% de hidratos de carbono; 20-35% de gorduras (peixe, nozes e azeite); vitaminas (3 peças de fruta por dia) e lacticínios (0,5 Litro de leite animal ou leite de soja);
- Comer 3 porções de laticínios meio-gordos ou magros por dia (atenção à pasteurização);
- Privilegiar o consumo de hortícolas, iniciando as refeições principais sempre com uma sopa de legumes. Os alimentos deste grupo devem ocupar também cerca de 1/2 do 2º prato;
- Carne, Peixe e os Ovos bem cozinhados;
- Legumes e vegetais se ingeridos crus deverão ser bem lavados;
- 3 peças de fruta por dia;
- Evitar ingestão de enchidos, carnes curadas;
- Reduzir a ingestão de cafeína e adoçante;
- Consumir com moderação o grupo dos cereais, como pão, arroz e massa, de preferência integral (bem repartidos ao longo do dia e não misturar na mesma refeição);
- Preferir sempre gordura vegetal como o azeite;
- Moderar o consumo de sal, utilizando pouco sal para cozinhar, não adicionando sal no prato e evitando produtos e alimentos com excesso de sal. Em alternativa utilizar ervas aromáticas, como orégãos, salsa, coentros, cebolinho, tomilho, manjericão;
- Praticar actividade física moderada;
- Evitar bebidas alcoólicas.
Sugestões:
- Lanches - Variar e combinar alimentos como fruta, iogurte ou leite, com hidratos de carbono como pão escuro ou de mistura ou frutos secos (amêndoas, nozes, avelãs, pinhões), sempre com moderação;
- Torne o prato colorido e apelativo e guie-se pela variedade e porções da Roda dos Alimentos.
Evitar:
- Produtos açucarados – Evitar produtos de pastelaria, sobremesas açucaradas, refrigerantes, chocolates, gomas, rebuçados, etc.;
- Alimentos salgados – Evitar produtos de charcutaria, salsicharia, alguns queijos, alimentos processados industrialmente, caldos concentrados, alimentos tipo fast-food, etc.;
- Alimentos ricos em gordura – Evitar produtos de charcutaria e enchidos, chocolates, massas folhadas, produtos de pastelaria, molhos, etc..
- Misturar vários hidratos de carbono na mesma refeição ( pão, massa, arroz, batata);
- Cafeína (evitar a ingestão de cafeína acima de 200 mg/dia);
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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DGS (2015). Programa Nacional para a Vigilância da gravidez de Baixo Risco. Retirado a 05-06-2018 de file:///C:/Users/Utilizador/Desktop/DGS%20vigilancia%20da%20gravidez%20de%20baixo%20risco.pdf
DGS (2015). Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável. Alimentação e Nutrição na Gravidez. Retirado a 05-062018 de https://nutrimento.pt/activeapp/wp-content/uploads/2015/04/Alimentacao-e-nutricao-na-gravidez.pdf
Graça, L. (2010). Restrição do crescimento intra-uterino. In: Graça, L. (2010) Medicina Materno-Fetal. 4ªEd (pp. 456-464). Lisboa: Lidel.
Klein, P. (1999). Anatomia e Fisiologia da Gravidez. In Bobak, I, Lowdermilk, D. & Jensen, M. (Eds.), Enfermagem na Maternidade (7.ª ed., pp. 95-113). Loures: Lusodidacta.
Machado, M. (2010). Assistência pré-natal. In: Graça, L. (2010) Medicina Materno-Fetal. (4ªEd, pp. 149-161). Lisboa: Lidel.
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